sábado, dezembro 16, 2006

Caveh Zahedi - "Je est un autre"


"Para mim a questão central da arte é a mesma que a do ego. Suponho que a questão central da vida é também essa, então vou apenas falar de arte, por agora.
A visão medieval do artista é uma que sinto mais próxima do que aquela do Século das Luzes, o artista era visto como um humilde servidor de Deus, fazendo o trabalho dele com a melhor perícia.
A partir do Renascimento esta visão começou gradualmente a mudar. O artista tornou-se progressivamente mais importante e a sua fé diminuiu. O culto da personalidade substituíu os velhos cultos místicos e o artista era cada vez mais visto como mais que humano.
Este culto da personalidade pode ser apreciado na maneira como vemos heróicas figuras artísticas como Miguel Ângelo, Beethoven ou Van Gogh, nomeando apenas uns poucos.
O que nós admiramos nesses artistas é a sua individualidade, a sua forma de serem únicos.
Mas eu acredito que toda a arte é "canalizada", isto é, toda vem de Deus, qualquer que seja a definição desta palavra. Mas a moderna visão da arte é que esta é a expressão pessoal de uma singularidade individual, um "génio" que é de alguma maneira mais brilhante e talentoso que todos os outros.
A verdade é que nós somos todos manifestações do génio de Deus. O artista não é excepção, apenas está mais próximo da fonte do seu Ser. Mas actualmente o artista adquiriu o estatuto de santo e a cultura da celebridade tornou-se uma nova religião. Só que em vez de uma panóplia de santos, conhecidos pelas suas virtudes e bons trabalhos, temos estrelas de cinema e de rock como ícons religiosos. Estas pessoas são adoradas não pela sua espiritualidade ou sabedoria, mas porque nos permitem de alguma maneira projectar uma imagem grandiosa de nós próprios, nomeadamente aquela que, como eles, nós também podemos ser mais importantes e poderosos do que normalmente sentimos ser.
O problema com o ego na arte é que ele destrói a ligação com a origem, posicionando-se como se fosse ele a Fonte."
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(Vale a pena ler o resto)