quarta-feira, janeiro 31, 2007

Memórias Campestres

A claridade da fogueira projectava três sombras que se estendiam pelo chão de cimento da grande cozinha e se destacavam na parede caiada, levemente iluminada por uma candeia de azeite.A mulher, Benedita Maria, mexia com uma colher de pau as sopas de carne que cozinhavam em negras panelas de barro. O homem colocou mais uns cavacos de azinho no lume e com uma cana comprida soprou até que eles se incendiaram numa chama viva. “Amanhã vamos os dois à caça.” disse ele olhando para o rapaz a seu lado sentado num banco empalhado com as mãos estendidas para o calor. “Vamos... mas tem que me deixar disparar a espingarda.” disse o jovem enquanto acariciava o pelo sedoso do perdigueiro deitado a seus pés. O cheiro da lenha queimada misturava-se com o das linguiças penduradas no fumeiro e com o da comida a ferver que Benedita despejava numa terrina meia de fatias de pão. “ Vamos jantar” disse ela “e tu és muito novo para andares aos tiros.” O moço riu-se enquanto se sentava à mesa. “Só gostava de experimentar” e olhando para o lado “ Está bem avô?” “Logo se vê.” e começaram a jantar em silêncio.
O dia amanhecia solarengo com uma agradável brisa enquanto caminhavam sobre as pedras de basalto das ruas da pequena vila em direcção à ponte que atravessava a ribeira de águas mansas. O verde das hortas que circundavam a povoação, contrastava com o castanho claro dos montes e o amarelado das searas de trigo da outra margem. “ Bom dia!” Gritaram acenando para um grupo de pessoas que trabalhavam no campo. Caminhavam decididos afastando-se pelos montes, o homem com a arma aberta sobre os braços com um ponche verde por cima da roupa cinzenta e o inseparável chapéu castanho a condizer com as botas de couro. O cão, o Shardeco, um animal manso e inteligente que raramente ladrava, corria alegremente pelo campo cheirando e procurando, atraído pelo odor da caça. De repente parou com a perna esquerda no ar, as orelhas e o rabo espetados e o olhar fixo em frente. O homem fez sinal ao rapaz para se baixar e fechando a arma aproximou-se cautelosamente. “ Vai lá!” O cão arrancou a correr e logo uma lebre surgiu saltando e correndo à sua frente. O homem disparou dois tiros e momentos depois o Shardeco surgiu contente com a lebre presa nos dentes deixando-a no chão aos pés do dono.
Comeram amoras e melancia e beberam em fontes de água pura a sair das rochas. No regresso o rapaz perguntou: “Então avô, posso disparar a espingarda?” Tinha treze anos, era alto e queria-se sentir um homem. “Está bem. Vês além aqueles fardos de palha? Tenta acertar-lhes.” E passou-lhe a arma para as mãos. Ele agarrou-a cuidadosamente e colocando-se em posição fez pontaria. O ruído do disparo ecoou pelos campos assustando bandos de pássaros que voaram para longe dali. A sua cabeça ficou atordoada com o barulho e ele deu um passo atrás com o impacto da arma. O homem ria-se enquanto enrolava um cigarro, “Bravo! Acertaste-lhe.”
À chegada, ainda com os ouvidos a zunir e uma nódoa negra no ombro ele pensava com os seus botões,” Ná! Isto é barulho a mais para meu gosto” E ali morreu o caçador que havia nele.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Higher State

sexta-feira, janeiro 26, 2007

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Um humor "sardináceo"

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Clair de Lune



Peça para piano de Claude Débussy.
Para construir gráficos como este, a partir de qualquer ficheiro midi, consulte este site

sábado, janeiro 13, 2007



Porquê?
Porque sim. Os blogs estão na ordem do dia e eu quero ter um, comunicar "com o mundo" em liberdade de expressão, mostrar os meus projectos, as minhas ideias, referenciar aquilo que admiro.

Como?
Depois de muito navegar, decidi que este blog iria dar destaque à minha forma positiva de estar na vida (também tenho uma forma negativa que evito).
Através de laivos de uma aprendizagem tardia na música (sorry), design ou poesia mas que me dão grande prazer partilhar.
Naquilo que escrevo tentando ser fiel à verdade e à coerência do vivido, respeitando-me e aos outros.
Os comentários estão abertos permitindo uma saudável troca de ideias o que por vezes acontece.

E agora?
Como ninguém pode ser o que não é, vou continuar sendo aquilo que sou.
Um agradecimento a todos os autores de fotos, textos ou filmes aqui utilizados.